Biópsia Guiada por Tomografia Computadorizada

Anatomia, Patologias e Protocolos para Procedimentos Seguros e Eficazes

Curso Técnico de Radiologia
Prof. Eduardo Felix
Módulo: Procedimentos Intervencionistas

Módulo 1: Introdução e Conceitos Fundamentais

O que é Biópsia Guiada por TC?

A biópsia consiste na retirada de material celular ou de um fragmento de tecido de um ser vivo para determinar um diagnóstico. A biópsia percutânea (através da pele) guiada por métodos de imagem, como a TC, é amplamente aceita como um procedimento efetivo, seguro e preciso.

Benefícios e Vantagens da Biópsia Guiada por TC:

  • Permite obter um diagnóstico histológico ou celular preciso
  • Procedimento minimamente invasivo com menor morbimortalidade
  • Custos mais baixos comparado às biópsias cirúrgicas
  • Permite classificar neoplasias e identificar marcadores tumorais
  • Analisa o estado mutacional de tumores
  • Avalia infecções e determina a natureza de doenças difusas

Escolha da Modalidade de Imagem

A escolha entre USG e TC (ou outras modalidades) depende de vários fatores:

Experiência do Médico
Conhecimento e habilidade do profissional com cada modalidade
Tamanho e Localização
Lesões grandes e superficiais: USG | Lesões profundas: TC
Vias de Acesso Seguras
Disponibilidade de trajetos seguros até a lesão
Capacidade de Visualização
TC superior para lesões obscurecidas por gás, ar ou estruturas ósseas

Vantagem da TC: Oferece alta resolução espacial e é superior à ultrassonografia (USG) para visualizar lesões profundas ou aquelas obscurecidas por gás intestinal, ar ou estruturas ósseas.

Módulo 2: Indicações e Aplicações

Aplicações por Região Anatômica

A biópsia guiada por TC é essencial para a investigação de lesões em diversas partes do corpo, especialmente quando a lesão é profunda ou de difícil acesso.

Região Indicações Comuns Observações
Abdomen Fígado, Retroperitônio, Pâncreas, Rins, Adrenais, Baço Virtualmente todos os órgãos abdominais. Mais frequente para confirmar lesão metastática
Pulmão (Torácica) Nódulos e massas pulmonares Principal escolha para diagnóstico histológico. Método de preferência
Cabeça e Pescoço Lesões profundas supra-hióideas e infra-hióideas Essencial onde USG tem limitações devido a estruturas ósseas ou que contêm ar
Ossos Lesões ósseas suspeitas de malignidade Coluna vertebral, bacia e ossos longos. Tumores primários ou metástases

Módulo 3: Técnicas de Biópsia e Abordagem

Técnica Preferida: Coaxial

A técnica coaxial é preferida pela maioria dos radiologistas e foi utilizada em todos os procedimentos em estudos sobre biópsias abdominais.

Procedimento Coaxial:
  • Colocação da agulha introdutora (guia) no alvo
  • Retirada do mandril cortante
  • Passagem da agulha de corte por dentro da agulha guia
  • Obtenção de múltiplos fragmentos através de uma única passagem

Vantagens da Técnica Coaxial:

  • Múltiplas amostras com única passagem da agulha guia
  • Reduz risco de complicações
  • Minimiza desconforto do paciente
  • Diminui duração do procedimento
  • Reduz exposição à radiação

Outras Técnicas

Agulha Única
Envolve múltiplas passagens, aumentando tempo do procedimento, exposição à radiação e risco de atravessar estruturas interpostas.
Tandem
Utiliza agulha fina para localização, com agulhas de biópsia introduzidas paralelamente, sem orientação de imagem, levando a punções múltiplas e controle impreciso.

Técnicas Suplementares para Lesões de Difícil Acesso

Hidrodissecção
Injeção de solução salina 0,9% (20 a 50 ml) para deslocar estruturas adjacentes e ampliar o espaço
Pneumodisseção
Injeção de ar (40 a 100 ml) em plano de segurança para permitir avanço seguro da agulha
Biópsia Trans-Órgão
Transposição de órgãos sadios (fígado, rim, estômago) para atingir lesão, escolhendo rota mais curta e evitando estruturas vasculares

Importante: Para biópsias renais, deve-se evitar o hilo renal para reduzir riscos de complicações vasculares.

Módulo 4: Preparação e Manejo de Segurança

Preparo do Paciente

Preparo Essencial:
  • Jejum: 4 a 8 horas de jejum são necessárias
  • Acompanhante: Obrigatório, especialmente se houver sedação
  • Exames Laboratoriais: Coagulograma (INR, TTPa, Contagem de Plaquetas) para biópsias profundas
  • Restrições Pós-Procedimento: Paciente não deve dirigir após o exame

Manejo de Medicações Anticoagulantes

Medicação Suspensão (Biópsias Profundas) Suspensão (Biópsias Renais)
Warfarina 5 dias antes ou se INR ≤ 1,5 não suspender Suspender 5 dias antes
Clopidogrel Suspender 5 dias antes Suspender 5 dias antes
AAS/AINEs Geralmente não suspender Suspender 5 dias antes
Heparina baixo peso molecular Suspender 1 dose ou 12 horas antes Suspender 2 doses ou 24 horas antes

Complicações e Manejo

Sangramento
Complicação mais comum (geralmente autolimitado). Manejo com GelFoam através da agulha coaxial para hemostasia local.
Pneumotórax
Principal complicação de biópsias pulmonares. Pequeno e assintomático: manejo expectante (81% de sucesso).
Outras Complicações
Infecção, perfuração, lesão de órgãos adjacentes, peritonite biliar, fístula arteriovenosa, semeadura tumoral (rara).

Fatores de Risco para Pneumotórax: Lesões pequenas, presença de enfisema pulmonar, e menor contato da lesão com a pleura parietal.

Módulo 5: Resultados e Eficácia Diagnóstica

Acurácia por Região

Os resultados demonstram a alta performance e eficácia do método de biópsia guiada por TC.

Região/Procedimento Taxa de Amostra Suficiente Complicações Observações
Abdominal (Geral) 89,8% a 90,5% 6,2% (sangramento autolimitado 85,7%) Alta eficácia com baixa morbidade
Hepáticas (Fígado) 90,5% 5,7% Nenhuma morte relacionada em estudos
Pancreáticas 82,8% 10,3% Técnica coaxial reduz risco de semeadura tumoral
Renais 94,8% 5,2% (hematoma autolimitado) Procedimentos muito seguros
Pulmonar (Geral) 84,5% a 100% Pneumotórax 11,5% a 62% Depende do tamanho da lesão e colaboração do paciente
Lesões Ósseas 98,4% 1,6% Resultados malignos mais frequentes quando orientados por PET/CT
Cabeça e Pescoço 100% material suficiente 6,8% (complicações menores) Técnica de agulha grossa segura e eficaz

Conclusão Didática: O Papel da Biópsia Guiada por TC

A Biópsia como Chave Mestra no Diagnóstico

A biópsia percutânea guiada por TC atua como uma chave mestra no arsenal diagnóstico oncológico. Assim como um chaveiro usa ferramentas específicas para alcançar um mecanismo complexo (o diagnóstico), o radiologista intervencionista utiliza a precisão da TC para acessar lesões internas que seriam:

Invisíveis
Como nódulos pulmonares profundos não detectáveis por outros métodos
Inacessíveis
Como lesões ósseas ou retroperitoneais de difícil abordagem

A adoção de técnicas avançadas, como o sistema coaxial, e protocolos de segurança rigorosos garantem uma alta taxa de sucesso diagnóstico com morbidade minimizada, sendo fundamental para o manejo e tratamento dos pacientes.