Trânsito Intestinal do Intestino Delgado

Técnicas radiológicas, interpretação e documentação do exame

1. Introdução ao Trânsito Intestinal

O exame de trânsito intestinal do intestino delgado (TID), também conhecido como small bowel follow-through (SBFT), é um estudo radiológico contrastado essencial para avaliar a anatomia, motilidade e integridade da mucosa do intestino delgado. É indicado em casos de suspeita de doença inflamatória intestinal, obstrução, má absorção e dismotilidade.

O contraste mais utilizado é o sulfato de bário, devido à sua baixa absorção sistêmica e excelente aderência mucosa. Em casos de suspeita de perfuração, utiliza-se contraste iodado hidrossolúvel.

Trânsito intestinal com bário

Figura 1: Exame de trânsito intestinal mostrando peristalse e preenchimento do intestino delgado com bário. Fonte: Radiopaedia

2. Anatomia Radiológica do Intestino Delgado

O intestino delgado é dividido em três segmentos:

O ponto final do exame é a passagem do contraste pela valva íleo-cecal para o ceco.

Anatomia do intestino delgado

Figura 2: Segmentos do intestino delgado visíveis em trânsito intestinal. Fonte: Radiopaedia

3. Técnica do Exame de Trânsito Intestinal

O exame pode ser realizado em duas variantes:

  1. Trânsito simples: contraste oral seguido de radiografias seriadas.
  2. Trânsito com duplo contraste: bário + agente gerador de gás para melhor distensão.

Tempo médio de trânsito normal:

Atrasos superiores a 4 horas no íleo terminal sugerem obstrução parcial ou doença inflamatória.

4. Técnicas Radiológicas para o Trânsito Intestinal

O sucesso do exame depende da padronização técnica e da documentação adequada.

4.1. Técnica Convencional (Trânsito Simples)

Contraste: Suspensão de bário (200-250% w/v), 300-400 mL via oral.
Série radiográfica:

4.2. Técnica com Duplo Contraste

Usa-se bário de baixa densidade (60-80%) seguido de agente efervescente (ex: 10g bicarbonato + 10g citrato).

Vantagens:

4.3. Posições Radiográficas Recomendadas

Posição Objetivo
AP Bipedestia Avaliação geral do trânsito e níveis hidroaéreos
AP Decúbito Dorsal Preenchimento sem efeito gravitacional
Obliqua Direita/Esquerda Desvendar alças sobrepostas (íleo terminal)
Perfil (Lateral) Estudo da valva íleo-cecal e refluxo

4.4. Critérios de Qualidade da Imagem

4.5. Documentação Mínima Obrigatória

  1. Tempo de chegada ao duodeno, jejuno, íleo e ceco
  2. Padrão peristáltico (normal, espástico, atônico)
  3. Presença de defeitos de preenchimento ou estreitamentos
  4. Imagens da valva íleo-cecal
  5. Confirmação do trânsito para o ceco
Técnica AP Técnica obliquas Técnica Perfil

Figura 3: Série com AP, oblíquas e perfil. Fonte: Radiopaedia

5. Principais Patologias Diagnosticadas

Doença de Crohn

Achados: lesões em "salto", estreitamentos ("string sign"), fissuras, "clove sign", plastrão inflamatório.

Obstrução Intestinal

Alças dilatadas (>3 cm), níveis hidroaéreos, atraso no trânsito. Pode ser aderencial, neoplásica ou herniária.

Neoplasias

Linfoma, carcinóide ou adenocarcinoma: defeitos de preenchimento, massas, estenoses excentricas.

Síndrome do Intestino Irritável (SII)

Trânsito acelerado ou espasmos difusos, sem alterações estruturais.

6. Interpretação das Imagens

Avalie:

Sempre correlacione com achados clínicos e laboratoriais.

Dicas para o Técnico de Radiologia