Parte 1: Introdução e Conceitos Fundamentais
1.1. O que é a Fistulografia?
- Definição: Exame radiológico contrastado que avalia a extensão, trajeto, ramificações e origem de um trajeto fistuloso ou sinusal.
- Princípio Básico: Cateterização do orifício externo da fístula e injeção de contraste iodado sob visão fluoroscópica.
1.2. Objetivos do Exame
O principal objetivo é fornecer um "mapa" para o cirurgião, delineando a origem, o trajeto principal, ramificações, cavidades associadas (abscessos) e a comunicação com outras estruturas.
1.3. Indicações Principais
- Fístulas enterocutâneas (intestino-pele).
- Fístulas perianais complexas (ex: Doença de Crohn).
- Fístulas vésico-cutâneas ou uretero-cutâneas.
- Trajetos sinusais pós-operatórios ou pós-traumáticos que não cicatrizam.
- Osteomielite crônica com drenagem para a pele.
1.4. Contraindicações e Riscos
- Absoluta: Infecção ativa no local da fístula (celulite extensa).
- Relativas: Alergia ao contraste iodado, suspeita de comunicação com cavidade estéril (ex: espaço subaracnóideo).
Parte 2: Classificação das Fístulas
2.1. Quanto à Origem e Terminação
- Fístula Externa: Comunica um órgão interno com a pele (ex: fístula enterocutânea).
- Fístula Interna: Comunica dois órgãos internos (ex: fístula colovesical).
- Sinus: Trajeto cego que se comunica com a pele, mas não com um órgão interno.
2.2. Quanto à Complexidade
- Simples: Trajeto único, reto, sem ramificações.
- Complexa: Trajeto longo, tortuoso, com múltiplas ramificações e/ou abscessos associados.
Parte 3: Técnica do Exame - Passo a Passo
3.1. Preparo e Materiais
Não exige preparo intestinal. Requer contraste iodado hidrossolúvel, seringas e cateteres finos adequados ao calibre do orifício fistuloso.
3.2. Sequência de Imagens Passo a Passo
- Identificação e Limpeza do Orifício: Limpeza rigorosa da pele ao redor do orifício com antisséptico.
- Cateterização do Trajeto: Inserção de um cateter fino diretamente no orifício. Uma vedação eficaz é crucial para evitar extravasamento do contraste pela pele.
- Injeção do Contraste: Injeção lenta e gradual sob visão fluoroscópica contínua até que o trajeto esteja completamente opacificado ou o contraste atinja uma cavidade visceral.
- Aquisição de Imagens: A fluoroscopia dinâmica é essencial. Imagens estáticas em múltiplas incidências (AP, oblíquas, perfil) são obrigatórias para documentar a anatomia sem sobreposição.
Parte 4: Interpretação de Imagens e Achados Patológicos
O laudo radiológico deve ser um mapa claro para o cirurgião, respondendo a perguntas cruciais sobre a origem, trajeto, ramificações e terminação da fístula.
4.1. Achados Patológicos Principais
- Fístula Enterocutânea: O contraste preenche o trajeto e opacifica o lúmen de uma alça intestinal.
- Fístula Perianal Complexa: Múltiplos ramos secundários e cavidades abscessadas na região perianal.
- Fístula Vésico-cutânea: O contraste injetado na pele chega até a bexiga, opacificando-a.
- Osteomielite Crônica: O trajeto sinusal termina em um osso de aspecto irregular, podendo delinear um fragmento ósseo necrótico (sequestro).
Parte 5: Resumo e Encerramento
A Fistulografia é uma ferramenta diagnóstica poderosa, de baixo custo e alta eficácia. Um exame bem executado e interpretado fornece um "mapa da estrada" para o cirurgião, sendo decisivo para o sucesso do tratamento, seja ele clínico ou cirúrgico, de condições fistulosas complexas.